Foi divulgada, pelo portal da revista americana Nature, uma boa notícia para aqueles que esperam por uma transfusão sanguínea: cientistas descobriram enzimas que são capazes de transformar sangue dos grupos A, B e AB no grupo universal O - que pode ser doado a todos os tipos de receptores, e que está sempre em falta. A ideia é possibilitar que os diferentes grupos sanguíneos, depois de transformados, possam ser doados a todos os tipos de receptores.
Estudos para modificar o tipo de sangue não são recentes. Há cerca de 25 anos já se cogita essa possibilidade. Mas apenas agora os pesquisadores conseguiram dar um passo além nas pesquisas nesse campo.
Para conseguir o sangue de laboratório, os cientistas, liderados por Henrik Clausen, da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, alteraram genes de bactérias para que elas fizessem o "serviço de limpeza", eliminando os antígenos – produtores dos anticorpos – presentes na superfície dos glóbulos vermelhos, evitando, dessa forma o aparecimento de anticorpos anti-b, que rejeitam o sangue tipo B e AB, e os anticorpos anti-a, que rejeitam o sangue tipo A e AB.
O sistema ABO (que identifica as tipagens sanguíneas), funciona da seguinte forma: o sangue tipo A tem anticorpo B, já esse tipo tem anticorpo A e o tipo AB não produz anticorpos. O sangue tipo O tem anticorpos anti-a e anti-b.
Dessa forma, uma pessoa tipo A pode receber sangue A ou O, uma B pode receber sangue tipo B ou O; quem é AB pode receber todos os tipos sanguíneos, ao passo que os portadores do sangue O só podem receber doações do mesmo tipo sanguíneo.
Com a nova descoberta, o sangue modificado tem as características do sangue tipo O, ou seja, é compatível a todos os receptores. Esse tipo é o mais comum de todos, mas por ser o único que pode ser adicionado aos outros tipos sanguíneos sem problemas, sempre está em falta nos bancos, já que é utilizado em cirurgias, transfusões e em situações de emergência.
Os pesquisadores envolvidos nesse trabalho acreditam que, com essa descoberta, pode-se pensar em um grande aumento nas reservas de sangue nos bancos sanguíneos e que as transfusões seriam mais seguras. Nesse momento, estão sendo planejados testes laboratoriais para testar a segurança e a eficácia do sangue convertido.
Essa nova técnica vai viabilizar transfusões mais seguras, pelo fato de evitar troca acidental no tipo de sangue que será transferido ao paciente. Um grande avanço, dado que hoje, o maior problema nas transfusões sanguíneas é o fato do doador receber o sangue errado.
Quanto a qualidade do sangue processado, “não há, aparentemente, desvantagem em relação ao sangue normal no que diz respeito ao transporte de oxigênio,” explica a professora Heloísa Sobreiro Selistre de Araújo, do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de São Carlos. O transporte do oxigênio dos pulmões até as células e do gás carbônico das células até o pulmão é essencial para a respiração celular, atividade vital ao organismo.
Segundo Heloísa, "o processo ainda é caro". Ela explica que, com o tempo, pode haver o barateamento da técnica, mas, pelo fato de ainda ser algo inovador, o custo para produzir o sangue processado ainda é alto.
A esperança é que em poucos anos a descoberta esteja disponível nos hospitais do mundo inteiro, beneficiando milhares de pacientes diariamente
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